Domine ou seja dominado: O convite do pecado aos jovens (desafios da juventude)

por | ago 6, 2019 | Jovens e Adolescentes

“Por que você está tão furioso?”, o Senhor perguntou a Caim. “Por que está tão transtornado? Se você fizer o que é certo, será aceito. Mas se não o fizer, tome cuidado! O pecado está à porta, à sua espera, e deseja controlá-lo, mas é você quem deve dominá-lo.”

– Gênesis 4.6-7

Assim como foi com Adão, novamente Deus busca o homem, apelando à sua razão, acerca dos motivos que estavam levando-o a fugir de Sua presença. Talvez o rosto de Caim o denunciasse. Os termos utilizados revelam isso (transtornado, furioso, descaído). Ele foi hostil com Deus, a quem não poderia matar, e estava invejoso de Abel, a quem podia matar[1].

O sacrifício não foi rejeitado por uma questão de preferência da parte Deus. Não havia algo em Abel que o levasse a agradar mais a Deus do que seu irmão. O que levou Deus a desconsiderar e rejeitar a oferta de Caim foi um coração dominado pelo pecado.

Deus afirma para Caim, caso ele “faça o que é certo”, ou seja, um sacrifício correto, Ele o responderia com um semblante sorridente, restaurando seu coração. O pecado o sondava, mas caberia a ele dominá-lo. A ideia de “dominar” é a metáfora de um animal selvagem que deve ser domado. E se torna bem verdadeira quando temos consciência da guerra travada em nossos corações contra o pecado.

 

O pecado está à porta

Uma pesquisa[2] de 2018 apontou que 22 milhões de pessoas consomem algum tipo de material pornográfico no Brasil. Destes, 58% são jovens com idade inferior a 35 anos. Quando questionados sobre o motivo do envolvimento com a pornografia, a resposta foi a seguinte:

No caso específico da compra de pornografia, destacam-se outras variáveis: segurança/sigilo; controle do tempo (“a que eu quero assistir, na hora em que eu quiser”); sensação de “curadoria”; e comodidade.

O caso da pornografia é apenas um dos pecados escravizadores que tem afligido a juventude. Outros podem ser citados: drogas, glutonaria, antidepressivos, ideologias contrárias à fé cristã, relacionamentos tóxicos, e etc. Assim como todo cristão, o pecado busca sagazmente tragar o crente, mas, sabemos quem é o real inimigo – Satanás –, que desde Adão, passando por Caim, procura agir sorrateiramente contra os filhos de Deus.

E talvez o primeiro passo para atacar o jovem crente, seja exatamente remover o peso do pecado. Edward Welch afirma que:

Em uma cultura em que a autoestima e uma visão elevada do valor pessoal são consideradas psicologicamente essenciais, falar sobre o pecado parece ser um ataque ao bem estar mental. Evoca imagens de Puritanos e pregadores austeros bradando maldições sobre aqueles que não se arrependem. Soa como um julgamento sem misericórdia, que derruba ao invés de edificar.[3]

Eliminar o pecado do vocabulário não torna a realidade de sua existência menor ou mais “graciosa”. O pecado é uma realidade. Não é condenatório assumir sua existência e consequências terríveis. Na maioria das vezes, pode sim, ser libertador fazê-lo.

 

Por que tão transtornados?

O pecado deixou de ser o principal problema do ser humano. E este pensamento tornou-se frequente no linguajar da juventude. Em sua maioria, hoje estão engajados em movimentos sociais, cujo desafio é diminuir a desigualdade e sofrimento, que podem ter inúmeras causas: governo, religião, status social ou alguma outra fonte que deve ser fortemente combatida.

Com isso, deixaram de entender que o pecado é o problema fundamental de seu ser. Mas como compreender isso se não conseguem sentir que o pecado seja seu maior problema? A questão é que não envolve sentimento – o pecado vai mais profundo em seu coração, pois ele revela, em um certo nível, que não amamos a Deus de todo coração.

As influências do mundo, somadas natureza da carne, são instrumentos do diabo nos ataques ferozes sobre a juventude. Elyze Fitzpatrick, comentando isto, diz:

Satanás usa duas armas poderosas nesse ataque: medo e prazer. Ele usa o medo para nos tentar ao sugerir que a obediência a Deus resultará na perda de algo que cremos que precisamos ter para sermos felizes. Ao mesmo tempo ele nos tenta pelo prazer ao apresentar as alegrias que a desobediência nos trará.[4]

Assim, quem decide conviver com o pecado vive transtornado, pois vive uma vida de autogratificação, e nada é mais ganancioso do que o pecado. Ele nunca está satisfeito com “apenas mais uma vez”. Por isso, não é incomum encontrar jovens que sejam “juízes auto-indicados”, não permitindo que ninguém os avalie.

Mas a Escritura o faz. E o faz sem nos levar à justiça própria. Ela o faz sob o escrutínio da justa justiça de Deus. Paul Washer lembra que:

Das Escrituras, vemos que o pecado não é um fenômeno raro ou incomum confinado a uma pequena minoria da humanidade, mas seu escopo é universal. Cada membro da raça de Adão se juntou à rebelião que ele começou. Aqueles que negam essa verdade devem negar o testemunho da Escritura, da história humana e de suas próprias reflexões, palavras e ações pecaminosas.[5]

Sob o controle

A batalha contra o pecado para o jovem, assim como o é com todo homem, é travada no coração. Você pode agir muito bem aparentemente, mas em seu coração é que estão as verdadeiras intenções, e em algumas vezes, nossos desejos internos não correspondem às nossas ações.

Sem a ação do Espírito Santo, a vontade sempre estará acostumada a escolher aquilo que lhe é natural, como as Escrituras afirmam – “Será que o Etíope pode mudar sua pele? Ou leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês, que estão acostumados a praticar o mal” (Jeremias 13.23).

É certo que a escolha pelo pecado pode desenvolver-se em hábito, e habito este, formado pela escolha consciente de vez após vez, ignorar a Deus e Sua Lei. Porém, é possível haver mudança no coração quando “nossa adoração (vou adorar e servir somente a Ele), nosso amor (vou amá-lO de todo o meu coração), e nossa devoção (quero ser Teu amigo. Tu és meu único Senhor)[6] forem redirecionados.

Deus é quem pode realizar, por meio de Seu Espírito e Sua Palavra, uma mudança radical na vontade de jovens que podem neste momento estar passando por uma guerra pela vontade em seu coração – “… pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dEle” (Filipenses 2.13).

A obediência à Palavra é o instrumento que quebrará o jugo do pecado. Quando o jovem perseguir a vida de santidade, processo iniciado e sustentado por Deus, os pensamentos, desejos e inclinações, serão todos voltados para a glória dEle, e não mais para a própria vontade.

 

Você é quem deve dominá-lo

O próprio Jesus enfrentou o ataque furioso de Satanás através de tentação, mas, resistiu com êxito a cada uma delas (Mateus 4.1-11). Quando questionado, ele pergunta: “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado?” (João 8.46). Alguns de seus ouvintes estariam bem ansiosos para responder caso pudessem. Mas não poderiam.

Por que Satanás não alcançou sucesso? Porque Jesus tinha como objetivo agradar Seu Pai e deleitar-se nEle. Sua vitória nos ensina que o poder da tentação é resistido quando nossos pensamentos, desejos, afeições e motivações estão focados em agradar a Deus, e nossa consciência clara que não se pode ofender a Deus, a quem devemos amar.

Se você pertence a Ele, o trabalho do Espírito Santo já está ocorrendo em sua vida. Seu trabalho é fazer com que a obediência a Deus, por meio do conhecimento da Palavra, e a adoração exclusiva a Ele, sejam prazerosos. Para o salmista (Salmo 119.97-104), a Lei do Senhor era doce como o mel.

Ore ao Senhor, peça que Ele lhe abra os olhos fazendo-o enxergar as maravilhas de um coração obediente a Ele. Que o Senhor lhe convença do pecado, e o mostre as glórias de Cristo.

[1] MacArthur, John. Bíblia de estudo MacArthur. p. 23.

[2] https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/22-milhoes-de-brasileiros-assumem-consumir-pornografia-e-76-sao-homens-diz-pesquisa.ghtml [Acesso em 18/07/2019]

[3] Welch, Edward T. Vícios: Um Banquete no Túmulo. p. 39.

[4] Fitzpatrick, Elyse. Ídolos do Coração. p. 178.

[5] https://voltemosaoevangelho.com/blog/2013/07/pecadores-todos-e-cada-um-paul-washer-1226/ [acesso em 18/07/2019]

[6] Fitzpatrick. p. 169.

Vinícius Mello

Bacharel em Teologia pelo Cetevap. Serve como pastor auxiliar na Igreja Cristã Evangélica Ebenézer. Serviu como professor no Instituto Bíblico Batista Independente.