O Sermão do Monte aplicado à relação com o próximo

por | jul 19, 2019 | Aconselhamento Bíblico, Vida Cristã

No Sermão do Monte, Jesus ensina que o litígio, brigas ou rancor contra os irmãos representa um empecilho a adoração. Aprenda sobre a relação com o próximo.

O Evangelho de Mateus é uma rica narrativa das boas novas do Reino de Deus escrita com o propósito de mostrar que Jesus é o Rei Messias aguardado e que Ele anuncia a chegada do Reino de Deus.

 

É uma peça chave neste propósito a proclamação dos princípios do Rei para a vida no Reino, sendo que esta proclamação é estruturada na porção que costumamos chamar de Sermão do Monte (Mt 5 – 7).

 

De acordo com o ensino de Jesus no Sermão do Monte, A Lei do Reino está em harmonia com o Antigo Testamento e em desarmonia com o ensino dos fariseus e escribas.

Mt 5.20: “Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.

No trecho de Mateus 5.21 – 48, Jesus apresenta seis exemplos de como o padrão requerido para o cidadão do reino excede o ensinado pelos escribas e fariseus. Cada um destes exemplos é apresentado dentro da estrutura “Ouvistes que foi dito aos antigos… eu, porém, vos digo…”, presente nos versículos: 21, 27, 31, 33, 38 e 43.

O primeiro destes exemplos é o padrão de Justiça do Reino aplicado ao 6º Mandamento (Não Matarás, cf. Êx 20.13):

Mt 5.21-26: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centil”.

De acordo com este texto podemos ver que a Lei do Reino não admite sentimentos, palavras ou ações ofensivas aos irmãos.

 

Na primeira parte do texto, versos 21 e 22, Jesus demonstra a superioridade da Interpretação do Rei em relação à interpretação tradicional dos fariseus e escribas.

 

Os fariseus e escribas faziam uma citação do sexto mandamento, “Não Matarás” combinado com Números 35.30-31.

Nm 35.30-31: “Todo aquele que matar alguém, será morto conforme o depoimento de testemunhas; mas uma só testemunha não deporá contra alguém, para condená-lo à morte. Não aceitareis resgate pela vida de um homicida que é réu de morte; porém ele certamente será morto”.

O ensino, em si, não estava errado, todavia ele era aplicado “stricto sensu” a ação de matar alguém (homicídio). Ao associar o sexto mandamento ao ato de homicídio com o correspondente processo legal, os fariseus restringiam a Lei Moral a ação externa comprovada pelos tribunais humanos. Interpretar o sexto mandamento junto com Números 35 faz com que as pessoas que nunca foram acusadas num tribunal tenham a ideia de que são fiéis cumpridoras da Lei e, portanto, se considerem justas por suas próprias ações. Esse é um clássico exemplo do legalismo farisaico.

 

Jesus traz o verdadeiro espírito da Lei, interpretando-a num sentido mais profundo, abarcando os sentimentos e as palavras, além das ações. Apenas o sentimento de cólera, raiva e ira contra o irmão já é considerado por Jesus como quebra do 6º Mandamento, assim como falar ofensivamente contra o irmão, o chamando de inútil ou idiota, também já é considerado por Jesus como quebra do 6º Mandamento.

 

A interpretação de Jesus está em franca harmonia com outras passagens da Lei, como por exemplo:

Lv 19.16-18: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; nem conspirarás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti pecado por causa dele. Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.

            Esse foi o ensino repetido nas epístolas para ser o padrão para a igreja.

Ef 4.29-32: Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia. Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo”.

O ensino aqui é que devemos estar atentos aos sentimentos e palavras em relação ao próximo, pois ofensas desta natureza são como homicídio para Deus.

 

Em termos de “pecado” o homicídio, o ódio contra o irmão, a explosão de raiva, as ofensas verbais e outras formas de comunicação ditas para ofender são iguais. A diferença está na amplitude das consequências imediatas colhidas por quem pratica cada um destes atos.

 

Nos versos de Mt 5.23-26, Jesus aplica o ensino de modo a mostrar que de certa forma o litígio, brigas ou rancor contra os irmãos representa um empecilho a verdadeira adoração.

 

A conclusão é que é de pouco valor dedicar-se a obra do Senhor, não faltar aos cultos, trabalhar na cantina, dar aula na EBD, tocar no louvor e etc e não manter um relacionamento cristão genuíno com os irmãos. Pense se na sua congregação tem alguém que você MATOU ou está MATANDO no seu coração? Entenda “matando” como aquela situação em que você carrega um rancor com relação a alguém ou simplesmente fica incomodado quando vê determinada pessoa e “matou” quando você tornou a pessoa insignificante para você, você não nutre nenhuma consideração por ela, é como se ela não existisse.

 

Se você fizer uma análise das palavras que diz, você pode dizer que tem sido ofensivo a alguém, mesmo que de “brincadeira”? Você fala de alguém de modo acusador, jocoso ou pejorativo?

 

Fica incomodado (não confortável) na presença de alguém? Por quê? Evita algum irmão ou guarda mágoa, amargura ou ira contra alguém?

 

Todas essas coisas nos acompanham numa luta em busca da santidade. É impossível para nós sozinhos não quebrarmos o sexto mandamento se pensarmos nestes termos. Os legalistas fariseus achavam que se não cometessem homicídio teriam cumprido a lei, mas nós seguindo a Lei de Cristo, sabemos que precisamos da graça de Deus para cumprir qualquer dos mandamentos.

Se você é um verdadeiro cidadão do Reino, o Espírito Santo deve te levar a não falar de outras pessoas, a não ser que seja para louvor ou edificação e a buscar a pessoa com a qual mantém algum sentimento de mágoa, ressentimento, amargura ou raiva.

 

O padrão de Justiça do Reino para o relacionamento com o próximo, vai além de condenar agressões físicas. Envolve também nossas palavras e sentimentos em relação ao próximo.

Pastor Alex Mello

Professor na Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos (ABCB).